sábado, 24 de março de 2012







Xeque-mate






Rei e Dama contra Rei,

Obra e poeta contra Dama

Cavalo e bispo na mesma cama

E na escrita, torre na D6

Peões arriscam a vida na A3

Loucos amores sem jogar

Rei preto na D8 a balançar

No comando que mata a arte

O derradeiro xeque-mate

Dá arte mórbida de amar.


Clamor, vício e honra na E4

Que me venha a benção do bispo

Que me ensinem em D2 o ofício

De deixar em Xeque esse cardo

Sem subir na torre com o cavalo

Sem beijar a dama como peão

Sem avançar em sacrifício na razão

Sem ser Rei louco em E3

Sem avançar, sem hooke, torre na E6

E sangue no tabuleiro em vão.


Dama branca, dama preta, Reis, ambos

Movimentos, armadilhas, enrascadas

Da torre em H8 parte a punhalada

Na coroa do conto-mate dos humanos,

Em F5, sinto, orgia, dama e peões, tantos.

E o bispo se oferece, carente e falso

No tabuleiro luz e sombra no cadafalso

E em D1 o poeta, sem ser peça, sem ser homem

Sem ter dama, sem ter torre, sem ter fome

Não é Rei, não é bispo, não é plástico.


Na vez de jogar, pula, em E4 os primitivos

Avançam sem receio no jogar eterno

E nem que a luta vá até o inferno

Ainda assim serão levianos e pungitivos

Na chance de vencer perderam sem arbítrio

Na gana de lutar, e de amar, o coração palpita

E não há de existir razão plena e favorita

Lamina que tanto corta, envenena e arde

Que a sensação do golpe final, do xeque-mate

Aplicado na dama traiçoeira e traída.


~César Augusto


Foto: Henderson Baena

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