sábado, 31 de março de 2012

Psicologia dos que vencem, ou não.


Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco...”

Augusto dos Anjos



Psicologia dos que vencem, ou não.






Eu, cria da infâmia e do conspícuo

Refém das ascensões e da alternância

De astros sem cor, como no pífio

Cuspir versos de minhas entranhas


Eu, introdutor na psiquiatria do lítio,

Maior paciente, sedado de arrogância

Enfrento a influência dos signos

Nas linhas e nos sonetos em epifania.


Já o tolo – este eterno alegre em sua sina –

Ri no desespero, ri castrado das tuas e das minhas

Come a genialidade exalada nas orbitas da atmosfera


E ainda há de ser a mão que dita teus termos,

Ainda há de ser aquele quem publica teus enredos

Quando teus satélites deixarem tua matéria.


~César Augusto



Foto: Henderson Baena

quarta-feira, 28 de março de 2012

Uma folha.


Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.” Pablo Neruda


Uma folha.







Uma pequena folha,
Pendia na gravidade,
balançava em um galho fraco.
Na bengala cardíaca da saudade.
Arritmia verde, no infértil solo,
Das artérias entupidas.
Infarto de vida,
Que me mandou pelos ares.

~César Augusto

Foto: Henderson Baena

segunda-feira, 26 de março de 2012

Passado.




Passado.






Ano passado.

Te chamei pra beber o mar.

Mesmo preferindo Whiskey.

Nem pedi que servisse.


Mês passado.

Queria tua letra nos meus versos.

Mesmo que fossem meus.

Você nem os leu.


Um dia desses.

Eu te chamei pra pintar o céu.

Olha que isso dá dor nas costas.

Sem resposta.


Ontem .

Eu te chamei pra me deixar.

Mesmo sabendo que isso me partiria

Você providenciou a cirurgia.


Agora a pouco.

Vi palavras suas com um estranho qualquer.

Mesmo preferindo não estar ouvindo Elis.

Fiquei feliz.


Porque comecei a escrever agora,

A pouco.

Sou outro.


~César Augusto

domingo, 25 de março de 2012

Pilha






Pilha







Estou em uma pilha
De tédio, Preguiça
Leio sem parar
Descanso sem cansar
Dessas pilhas Ca-idas.

Vinis, Contas e Poesia
Estou em uma pilha
No jornal, em castelhano
Na égide da apatia do mundano
Despencando de uma milha

Equilibrando na apatia
Sem saudade, sem retrô, sen-tia
“Del falso amor que tanto aflige al mundo”
No acaso, despreparo e fundo
Calabouço no topo das Fê[r]-idas.

Na preguiça, porfia.
“Ella me quiso, a veces yo también la quería.
Uma pilha de sonhos, contos, criança
No cinismo de Fe[rn]-anda.
deitada minha cria.

~César Augusto


Foto: Henderson Baena

sábado, 24 de março de 2012







Xeque-mate






Rei e Dama contra Rei,

Obra e poeta contra Dama

Cavalo e bispo na mesma cama

E na escrita, torre na D6

Peões arriscam a vida na A3

Loucos amores sem jogar

Rei preto na D8 a balançar

No comando que mata a arte

O derradeiro xeque-mate

Dá arte mórbida de amar.


Clamor, vício e honra na E4

Que me venha a benção do bispo

Que me ensinem em D2 o ofício

De deixar em Xeque esse cardo

Sem subir na torre com o cavalo

Sem beijar a dama como peão

Sem avançar em sacrifício na razão

Sem ser Rei louco em E3

Sem avançar, sem hooke, torre na E6

E sangue no tabuleiro em vão.


Dama branca, dama preta, Reis, ambos

Movimentos, armadilhas, enrascadas

Da torre em H8 parte a punhalada

Na coroa do conto-mate dos humanos,

Em F5, sinto, orgia, dama e peões, tantos.

E o bispo se oferece, carente e falso

No tabuleiro luz e sombra no cadafalso

E em D1 o poeta, sem ser peça, sem ser homem

Sem ter dama, sem ter torre, sem ter fome

Não é Rei, não é bispo, não é plástico.


Na vez de jogar, pula, em E4 os primitivos

Avançam sem receio no jogar eterno

E nem que a luta vá até o inferno

Ainda assim serão levianos e pungitivos

Na chance de vencer perderam sem arbítrio

Na gana de lutar, e de amar, o coração palpita

E não há de existir razão plena e favorita

Lamina que tanto corta, envenena e arde

Que a sensação do golpe final, do xeque-mate

Aplicado na dama traiçoeira e traída.


~César Augusto


Foto: Henderson Baena

terça-feira, 20 de março de 2012

Era uma vez.




Era

uma

vez.






Era uma vez,

A poesia.

E todo mundo

Dizia.

Que só tinha

Beleza, nas

Linhas

Com poucas

Palavras

Soltas.


Até onde,

A preguiça

Consome,

Essa lista?


Tá tudo,

Só espaço

Sem uso.


Era uma vez,

Mas sem

Refrão.

Apaga tudo,

Então.

De vez.


~César Augusto

domingo, 18 de março de 2012

Canastra





Canastra












Sou portador de severas penas;
Saldos e devassos amores;
E já não tenho aqueles pudores;
Que antes não se viam em românticas cenas;

Sou possuidor, crédulo na consciência plena;
Que nesta sorte da vida, todos são jogadores;
E provei do amargor que provam os perdedores;
E por isso hoje sei, que a vida é banal e efêmera!

E se vivi cigano, jogando copas e espadas;
Digo que nas vitórias e nas derrotas temos cartas;
O que nos cabe é escolher bem os jogos;

Severas penas amarguei sem damas;
E se fui canastra na tua cama;
É porque não vi aposta nos teus votos...

~César Augusto.


quarta-feira, 14 de março de 2012

Gosto mortal





Gosto mortal









Amar, gosto mortal, choram os poetas
Amar como uma lembrança fatídica...
Como esperar em um segundo pela vida
Enquanto num milésimo vem a morte e flerta...

Mas nao ama, amar...como ferida aberta
Como uma crônica chaga... lúgubre tentativa
Como amar... e na esperança da despedida

Nunca haverão, bons caminhos, portas certas...

Verbo passivo, sem voz, como os que a querem
Amar é fruto fútil da imaginação dos que bebem...
Embriagado e perfeito em seu copo de sadismo...


Como deveria ser...amar como gosto mortal
Em goles escrevo o vazio e sou cínico arsenal...
Das veias irrigadas e pulsantes deste eufemismo...

~César Augusto.

domingo, 11 de março de 2012

Eureka!










Eureka!











Deve ser o cinza, pensei.
Gotas são letras em nossas cabeças, uma bagunça de verso.
O poeta é um soterrado em uma chuva sem sentido, em silêncio.

Deve ser a noite então, perguntei.
Raios, trovões, visões e toda a enxurrada pouco líquida no universo,
O poeta é salva-vidas sem bote, reboque, afundando polêmico.

Tem que ser a música, escutei.
Acordes, solos e odes, toda a melodia, melancólica dos verbos
O poeta desafina sem cantar, contamina, um doente, endêmico

Esses poucos cigarros, traguei.
Fumaça, charada, a triste indiferença de atentar a tudo, viver ecos
O poeta é refém, bandido da inspiração em um tic-tac ao ponto efêmero

É o clima por certo, imaginei.
Meus amigos disseram noite passada: pensei nisso. Eu pensei versos
O poeta é um para-raios no magnetismo da inspiração dos momentos.

[Pronto para ser atingido em ponto infalível...]
Eureka!


~César Augusto.

quinta-feira, 8 de março de 2012

À todas as mulheres

À todas as mulheres

À todas as mulheres, dos mais diversos graus, saltos e intimidade
Das mais diversas tonalidades d’alma, batons, sombras e luz
Dos mais variados temperamentos, temperos, cabelos e vaidade
Meu sincero carinho, ao gênero, a singularidade que tudo traduz.

A nossa felicidade, sapiens sem tacapes, é lutar contra a caducidade
Desse senso primitivo de proteção, quando em vocês tudo reluz
São fortes, astuciosas e apaixonantes em uma simples naturalidade
Que nós homens só podemos alcançar com lutas, sangue ou capuz.

Meu sincero sentimento a esse símbolo de fertilidade e poder
O mundo é bendito fruto de vossos ventres e do vosso saber
E masculinidade é ter o conhecimento e a certeza,

Que sem a vossa doçura ou imponência, amor ou ódio
E todas as antíteses e paradoxos deste sexo ou realeza
Tenho certeza que a vida seria um rudimentar ócio.

~César Augusto

quarta-feira, 7 de março de 2012

A minha mãe.

A minha mãe.

Feliz fui eu, parido de um ventre tão forte
Criado no ninho integro de uma guerreira
Engatinhei protegido dos tombos e cortes
E ainda assim aprendi: a vida não é perfeita.

E mesmo em meus rompantes, feliz, teci odes
Linhas primas de minha mãe, talentosa e eleita
Por todos que a rodeiam e em todos meus cofres
Mais preciosa que a cor do céu e onde ele deita...

Feliz sou eu, que tenho tua mão forte e leve,
E tuas longas palavras ou silêncios breves
Tudo de teu ventre é luz e contemplação

Feliz sou eu, com estas mãos nascidas em teu talento
Passado em cada beijo e afago por todo esse tempo
Em que tua existência pra mim é alimento e fascinação.

~César Augusto

terça-feira, 6 de março de 2012

A Princesinha







A Princesinha.















Em um cantinho particular, uma bonequinha,
Com seus cachos dourados e uma boca rosada,
E escondido naqueles vestidos, contornos e linhas
Que a fizeram por todos ser vista e cobiçada,

O mocinho nem podia chegar na mocinha,
Pois haviam quilômetros, prédios e calçadas
Mas perguntava: tem lugar na sua casinha?
Tem lugar pra brincar de ser minha namorada?

A princesinha, no seu castelo particular sorria
Mudava seu cabelo, seu vestido, mas sabia
Que o moço continuava com olhos brilhantes,

E um belo dia na carruagem cheia de amor,
Desceu o príncipe com carinho e a roubou
Para reinarem felizes nas terras distantes.

~

E princesinha, saiba, que teu mimo e doçura,
Não escondem esse olhar que tudo me pede,
Essas mãos pequenas não escondem a formosura,
Que molda tuas curvas e esse teu beijo leve,

Que tudo me toma, tudo domina e abusa,
E nesta tez, na porcelana desse busto ergue
Todos os pilares d’meus desejos nas curvas
Onde se perdeu meu juízo, mesmo que negues...

E na pimenta da tua saliva, saborosos beijos
E no teu suave toque descubro todos os meios
De viajar dentro dessa vontade medieval

Se já te roubei princesinha agora sou refém
Dessa mulher que se escondia com um arsenal
Fazendo meu desejo não ser de mais ninguém.

~César Augusto


Presente à Alyne Dias ^^

sexta-feira, 2 de março de 2012

Cisternas





Cisternas








Bebi sedento, em haustos, em soluços
Daquelas gotas geladas transbordando
Abasteci esta garganta seca de absurdos
Com a fúria de um mar de sal afogando.

Banhei meu corpo de calafrios e luto
No recipiente de ferrugem desbotando
Como minhas lembranças já sem uso
Na lama gelada que nos pés vi calçando

E no encharcado culto desse batismo
Renasci no profundo oceano cativo
Desta vontade úmida no paladar ferroso

Em goles maiores que essas cisternas
Provei de vontades líquidas como aquela
Parte de mim que pingava do seu pescoço.

~César Augusto


Mais um parceria com a Fotógrafa Alyne Dias e seus Clicks intuitivos!