segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012











A montanha





Bota teus sonhos nas costas, e parte.
Bota nas luvas teus receios e carinhos
Nas tuas botas o cansaço e a idade
De todo esse equipamento, destino

Vai até que as placas sejam confusas
Até que as ruas tenham outro sentido
Até serem poucas as verdades tuas
Até a incerteza, até não haver caminho,

Mora nos teus pés, travesseiro de medo
E deixa o frio castigar quem não te gosta
Deixa perder o fôlego o desamor ermo
Deixa perdida na trilha as vagas propostas

Deixa até uma parte tua rolar da montanha
E no fim de tudo que olhares, deixa esquecer
Deixa os olhos alcançarem visão tamanha
Que os braços não possam apontar ou descrever

E só volta com o teu cantil vazio e sem sede
Só volta, quando ontem for lugar vazio na cama
E a vontade de amanhã seja mais verde
Que qualquer broto perdido na montanha,

E quando apertar o passo, quando correr sem dor
Abraça teu caminho, cumprimenta sem saudade
Uma parte que derreteu sem sabor
E hoje é todo o teu combustível da vontade

- De escalar tudo o que desmoronou –

~César Augusto

Foto: César Augusto - Montanha Chacaltaya - La Paz, Bolívia.

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