segunda-feira, 9 de abril de 2012

Há três anos





Há três anos








Há três anos, amarguei por fios rubros,

Dores e sorrisos que rezei afastar dos enredos

Como tanta maldade pode crescer nos cabelos

De quem alimentei sentimentos tão puros?


Há três anos, presenteei livros e frutos,

E morri à míngua de uma resposta aos apelos

Como pode tanta indiferença crescer nos seios

De quem tinha meu querer tão resoluto?


Há três anos, casei, simples e modesto,

E nunca mais alimentei virgulas ou manifesto

Até hoje, que rompi a fivela do cardo-isento


Para doer nesse cruel governo escarlate e tirano

Que outrora estancou o pingar rubro e humano

E hoje é simplesmente hemorragia sem remendo.


~


Há três anos, não provava do amargo suco

Que embriaga, lateja a arrepia os pelos

Há três anos: como pude não sofrê-los?

Como pude conter esse lancinante surto?


Já não sei. Há três anos, sem músculos,

Apanhei daquele cinismo, trotes, termos,

do silêncio e do descaso que estalavam os nervos

Há três anos, esse veneno, destilo e curto.


Essa poção que não revive e nem é gole funesto.

Mil e noventa e cinco pingos do que não é remédio

E não é só dor, só pesar ou só lamento.


Há três anos, sem morrer e sem ser insano

Sem ter onde, sem ter quem, ser ter quando

Descobri como dói a noção do tempo.


~César Augusto.


Foto: Henderson Baena

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