Há três anos
Há três anos, amarguei por fios rubros,
Dores e sorrisos que rezei afastar dos enredos
Como tanta maldade pode crescer nos cabelos
De quem alimentei sentimentos tão puros?
Há três anos, presenteei livros e frutos,
E morri à míngua de uma resposta aos apelos
Como pode tanta indiferença crescer nos seios
De quem tinha meu querer tão resoluto?
Há três anos, casei, simples e modesto,
E nunca mais alimentei virgulas ou manifesto
Até hoje, que rompi a fivela do cardo-isento
Para doer nesse cruel governo escarlate e tirano
Que outrora estancou o pingar rubro e humano
E hoje é simplesmente hemorragia sem remendo.
~
Há três anos, não provava do amargo suco
Que embriaga, lateja a arrepia os pelos
Há três anos: como pude não sofrê-los?
Como pude conter esse lancinante surto?
Já não sei. Há três anos, sem músculos,
Apanhei daquele cinismo, trotes, termos,
do silêncio e do descaso que estalavam os nervos
Há três anos, esse veneno, destilo e curto.
Essa poção que não revive e nem é gole funesto.
Mil e noventa e cinco pingos do que não é remédio
E não é só dor, só pesar ou só lamento.
Há três anos, sem morrer e sem ser insano
Sem ter onde, sem ter quem, ser ter quando
Descobri como dói a noção do tempo.
~César Augusto.
Foto: Henderson Baena
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