Desmentindo
~I
Atualmente desmenti, metade das minhas mentiras
Nesses dias, desmistifiquei a magia de muitas coisas
Ando constantemente matando quem eram as pessoas
Que entronei sem sangue, sem luta, que não me queria
Só com letras. Só com sonhos. Percebi, que não sentia.
Descobri à pouco que muitas das coisas eram outras.
Que meus desejos eram outros, eram onde, eram forças
Para simplesmente continuar a dizer que mal-fazia.
Atualmente perquiri e tive solução, exato e desapaixonado.
Presenteei-me a verdade do vazio, a morte de muitos fatos
Que me tornavam amante sem leito, sem sentido
Rasguei aqueles meus versos heróicos e minha parnasiana
E todas as formas inverídicas com as quais falei da chama
Que não queimava, iluminava ou era abrigo
~II
No inverno da razão, amei sem passarinhos, sem flores,
Despetalei todo o mal-me-quer desse frio fantasma
Não fiz mais romances, sonetos, prosas ou cartas
Nem mesmo me peguei a desmerecer os reais amores.
Nesses dias de solidão, quando a faca causa sangue e dores.
Eu sofro, mas pelo metal, pelo fio, não por aquelas armas
Que me matavam infalível e rasgavam, sem garras
O que hoje tenho como meus platônicos rancores.
Desmenti metade das folhas e mais um pouco de mim,
Exorcizei todos os teus atributos das silabas e do nanquim
E sou mais feliz, mais real, menos cansado e cansativo.
Odes não me aprisionam, versos não enforcam,
As rimas não me sangram, as virgulas não me invocam
Estou mais para um pedaço disso, mas ainda vivo.
~III
E sem essas alegorias, sem esse silêncio, sem a covardia,
Sem viver daquelas entrelinhas, nos entremeios do abismo
Não tenho mais medo de morrer da inanição e do cinismo
De uma figura que sequer amava, respirava ou existia.
Era só silêncio, maçã de cera, ilusão que machucava e perfazia
Mais solidão, mais revolta e outros tantos litros
Do líquido da tristeza e da fome dos mais errados livros
Que me levavam a negar o pouco saber que me constituía.
Atualmente desmenti, essa saudade que andei criando.
Explodi todos os ídolos que andei amando.
Nesses dias, descobri as correntes nos teus pés.
Percebi o gesso nos teus joelhos
Apaguei todo o fogo dos teus cabelos
E caminhei por tua imagem através.
~César Augusto.
Foto: Henderson Baena
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