sábado, 28 de julho de 2012

Equações.









Equações.
















Haveria um interdito?
Uma métrica rígida...
Que pudesse fazer poesia
Que pudesse fazer um livro?

Uma frase, uma equação exata
Que somasse perdas, as letras
Haveriam tantos selos quanto cartas
Que pudessem remeter às nossas cabeças...

Um acontecimento, um rito de passagem...
Que levasse todos a mesma vírgula fatídica
Haveriam pontos suficientes? Ou cartilagem
Nas terminações poéticas de nossas vidas?

Um pôr do sol de aura criativa
Um luar com a magia rimativa
Um amor que trouxesse a ideia
Uma morte que roubasse o medo
Um remédio absoluto para os nervos
Uma explicação para o que não é matéria
- mas dói.
Essa média.
Interpretativa.
Do que não é vida
Etérea.

~ César Augusto.


Foto: Henderson Baena

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Verticalidades












Verticalidades.

Em linhas verticais confidenciarei
As silenciosas aspas reprimidas
Todos os silêncios na garrida
Onde verticalmente errei 

Nesta queda vertente, verterei...
Todas estas palavras moídas
Poucas, vazias e diluídas
Vértebras que quebrei

Vertido, hão de pronunciar,
Veemente ei de verticar,
Uns silêncios gemidos

Verticalmente escorridas
Versos e linhas varridas
Nos seios vertica-ídos.


~César Augusto

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Visões








Visões.











Dos olhos pulam circunstâncias,
Escorrem argumentos derretidos
Arregalam atenções e fragrâncias
Do amago úmido dos tecidos...

Piscam sentimentos remoídos
E apertam salgadas distâncias
em mililitros de verdade ungidos
Nas terminações e nas glândulas

O globo ocular evidencia na fração
O quadro eterno, a congelada emoção
Reprisada em lágrimas vãs e míopes

Astigmatismo de ideias fixas
choradas constelações líquidas
de todas as possibilidades virgens

~

Os dois globos gêmeos, ambigues,
As duas grades de cores e distâncias
Vezes copos vermelhos de matizes
Dos sonhos mais tenros da infância...

Vezes amarelo desgastado até a iris
Doada cornéa de sonhos na fractância
de ilusões sem retina de um calibre
mortal no cristalino das alternâncias

As cores se enganam, embaçadas
O foco se perde trêmulo nas páginas
Letras miúdas, detalhes dolorosos

Vítreo da alma, mácula e esclera
A verdade é invertida quando certa
Como é o motivo que arrepia os poros.

~César Augusto

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Urgências,










Urgências,














Aprende.
Que nas urgências
Sentimentais,
Existem mais...
Médicos que doentes.

Confia,
e não te abate
Pois quando,
Não há cirurgia
Não há alarde...

Ouve,
Que nos corredores,
Existem mais,
Medicados
Que dores.


Contudo, saiba
Que nos funerais.
Existe mais,
Verdade
Que flores.

~César Augusto

terça-feira, 3 de julho de 2012

Hoje não tem poesia.




Hoje não tem poesia.













Hoje, forçosos arreios apertam as costas,
Cavalgam chicotes nos tropeços de agonia
Hoje, não tem descanso, não tem poesia
Tal cabresto que rasga o lábio e a prosa,

Hoje, os bridões roubam o fôlego e a cólera
E o cavaleiro da obesidade e da ironia
Avisa indolente: hoje não vai haver poesia
Trotando torto e’minha pulsante aorta.

Avisem que hoje não tem poesia, cavaleiro,
Hoje só tem a crina molhada e o esterco,
E a velocidade inaudível das preocupações

Hoje, piso onde ferraduras não protegem
Puxo carroças que já me advertem:
Hoje não tem poesia, só lamentações.

 ~César Augusto.

Foto: Henderson Baena