segunda-feira, 7 de maio de 2012

Acaso







Acaso (Fragmento)








O acaso deve ser respeitado como respeitamos os mais velhos, talvez, simplesmente, por ele realmente ser mais velho do que nossos pais, ser pai dos nossos pais e de certa forma responsável pelo malabarismo de “coincidências” que montaram nossos ancestrais. O fato é que o acaso deve ser respeitado, como uma peça fundamental de uma coisa que sequer estamos esperando montar, é fuga de um roteiro, é gênero que não procuramos na prateleira, tal como antigamente quando pegávamos fitas cassete sem identificação e acabávamos vendo o inicio de um filme que não era de nossa escolha, as vezes, ou todas as vezes, as pessoas agnósticas ao acaso quando regozijam-se do controle rígido de suas vidas, simplesmente não sabem que um caminho escolhido é um acaso, ele é um inicio de um filme que você achava que não queria ver e se pegou deixando-o rolar por alguns minutos, por saudade, curiosidade ou mesmo preguiça de pegar a fita correta, depois você já viu 15 minutos, porque não “deixar a história posta à sua frente rolar?” é o que você pensa. Essa é a história da vida de tantos e todos, empurrados para um caminho casual, de escolhas casuais, por motivos casuais, até o teus desejos são casualidades, de filmes que você viu, de pessoas que você conheceu, de sabores que você provou e dos dados aleatórios que foram e são jogados na sua vida, simplesmente para serem jogados, o acaso como o destino são sinais de ordem tal como sinais de caos, só depende que acaso você esta habitando nesse momento, nesse jogo de azar, onde apostamos destinos uma boa mão é acaso, adversários ruins ou bons, são obras do acaso, os sinais do acaso e do destino estão espalhados por toda parte e para vê-los você deve simplesmente não olhar pra eles, isso mesmo, despreparados, distraídos podemos amar, vencer e esbarrar em portas de vidro e nessas portas casualmente podemos achar a enfermeira mãe de nossos filhos como o óbito ocasional por falta de socorro. Aos atentos e obsessivos fugitivos do acaso, com suas lentes de contato afiadas às portas e esquinas, existem bueiros, atropelamentos, livros de auto ajuda e tantas outras formas igualmente casuais de aprendermos a respeitar esse estranho parente de Muphy e de Deus. O Acaso deve ser respeitado como respeitamos a vida mesmo desconhecendo os milhares de milagres que a mantém em pé, o acaso deve ser respeitado, tal poder supremo, tal pó de ordem que flui levando tudo, casualmente, aonde deve e irá estar cedo ou tarde “por acaso”.

~César Augusto.

Foto: Henderson Baena

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