Acaso (Fragmento)
O acaso deve ser respeitado como
respeitamos os mais velhos, talvez, simplesmente, por ele realmente ser mais
velho do que nossos pais, ser pai dos nossos pais e de certa forma responsável
pelo malabarismo de “coincidências” que montaram nossos ancestrais. O fato é
que o acaso deve ser respeitado, como uma peça fundamental de uma coisa que sequer
estamos esperando montar, é fuga de um roteiro, é gênero que não procuramos na
prateleira, tal como antigamente quando pegávamos fitas cassete sem
identificação e acabávamos vendo o inicio de um filme que não era de nossa
escolha, as vezes, ou todas as vezes, as pessoas agnósticas ao acaso quando regozijam-se
do controle rígido de suas vidas, simplesmente não sabem que um caminho
escolhido é um acaso, ele é um inicio de um filme que você achava que não queria
ver e se pegou deixando-o rolar por alguns minutos, por saudade, curiosidade ou
mesmo preguiça de pegar a fita correta, depois você já viu 15 minutos, porque
não “deixar a história posta à sua frente rolar?” é o que você pensa. Essa é a
história da vida de tantos e todos, empurrados para um caminho casual, de
escolhas casuais, por motivos casuais, até o teus desejos são casualidades, de
filmes que você viu, de pessoas que você conheceu, de sabores que você provou e
dos dados aleatórios que foram e são jogados na sua vida, simplesmente para
serem jogados, o acaso como o destino são sinais de ordem tal como sinais de
caos, só depende que acaso você esta habitando nesse momento, nesse jogo de
azar, onde apostamos destinos uma boa mão é acaso, adversários ruins ou bons,
são obras do acaso, os sinais do acaso e do destino estão espalhados por toda parte
e para vê-los você deve simplesmente não olhar pra eles, isso mesmo,
despreparados, distraídos podemos amar, vencer e esbarrar em portas de vidro e
nessas portas casualmente podemos achar a enfermeira mãe de nossos filhos como o
óbito ocasional por falta de socorro. Aos atentos e obsessivos fugitivos do
acaso, com suas lentes de contato afiadas às portas e esquinas, existem bueiros,
atropelamentos, livros de auto ajuda e tantas outras formas igualmente casuais
de aprendermos a respeitar esse estranho parente de Muphy e de Deus. O Acaso
deve ser respeitado como respeitamos a vida mesmo desconhecendo os milhares de
milagres que a mantém em pé, o acaso deve ser respeitado, tal poder supremo,
tal pó de ordem que flui levando tudo, casualmente, aonde deve e irá estar cedo
ou tarde “por acaso”.
~César Augusto.
Foto: Henderson Baena
Nenhum comentário:
Postar um comentário