sábado, 26 de maio de 2012
Des-canso.
Des-canso.
Descansa entre as folhas minhas dores,
No fértil solo sagrado, meu corpo, cansado
Descansa, debanda, deitado...
Entre as folhas, entre as flores.
Descansa entre os contos, entre lábios
No fundamento terrestre, nos terrores
Meu corpo, minhas senhoras e seus senhores
Com a agitação do descansar deitado.
Preocupações deitadas, saltados tumores,
Ruborizando meu descanso, deitado
Entre as folhas, entre o prado
Entre canções, entre tambores.
Descanso preocupado, fatigado.
Entre as vinhas, entre as cores
Na matiz preguiçosa dos tremores
Do epicentro cardíaco e adoentado.
Ando cansado,
Te-mores
Alhures Des-canso,
Ar-dores...
~César Augusto.
Foto: Henderson Baena
segunda-feira, 7 de maio de 2012
Acaso
Acaso (Fragmento)
O acaso deve ser respeitado como
respeitamos os mais velhos, talvez, simplesmente, por ele realmente ser mais
velho do que nossos pais, ser pai dos nossos pais e de certa forma responsável
pelo malabarismo de “coincidências” que montaram nossos ancestrais. O fato é
que o acaso deve ser respeitado, como uma peça fundamental de uma coisa que sequer
estamos esperando montar, é fuga de um roteiro, é gênero que não procuramos na
prateleira, tal como antigamente quando pegávamos fitas cassete sem
identificação e acabávamos vendo o inicio de um filme que não era de nossa
escolha, as vezes, ou todas as vezes, as pessoas agnósticas ao acaso quando regozijam-se
do controle rígido de suas vidas, simplesmente não sabem que um caminho
escolhido é um acaso, ele é um inicio de um filme que você achava que não queria
ver e se pegou deixando-o rolar por alguns minutos, por saudade, curiosidade ou
mesmo preguiça de pegar a fita correta, depois você já viu 15 minutos, porque
não “deixar a história posta à sua frente rolar?” é o que você pensa. Essa é a
história da vida de tantos e todos, empurrados para um caminho casual, de
escolhas casuais, por motivos casuais, até o teus desejos são casualidades, de
filmes que você viu, de pessoas que você conheceu, de sabores que você provou e
dos dados aleatórios que foram e são jogados na sua vida, simplesmente para
serem jogados, o acaso como o destino são sinais de ordem tal como sinais de
caos, só depende que acaso você esta habitando nesse momento, nesse jogo de
azar, onde apostamos destinos uma boa mão é acaso, adversários ruins ou bons,
são obras do acaso, os sinais do acaso e do destino estão espalhados por toda parte
e para vê-los você deve simplesmente não olhar pra eles, isso mesmo,
despreparados, distraídos podemos amar, vencer e esbarrar em portas de vidro e
nessas portas casualmente podemos achar a enfermeira mãe de nossos filhos como o
óbito ocasional por falta de socorro. Aos atentos e obsessivos fugitivos do
acaso, com suas lentes de contato afiadas às portas e esquinas, existem bueiros,
atropelamentos, livros de auto ajuda e tantas outras formas igualmente casuais
de aprendermos a respeitar esse estranho parente de Muphy e de Deus. O Acaso
deve ser respeitado como respeitamos a vida mesmo desconhecendo os milhares de
milagres que a mantém em pé, o acaso deve ser respeitado, tal poder supremo,
tal pó de ordem que flui levando tudo, casualmente, aonde deve e irá estar cedo
ou tarde “por acaso”.
~César Augusto.
Foto: Henderson Baena
quinta-feira, 3 de maio de 2012
Poeira
Poeira
Em baixo da cama recolhi uns versos,
Empoeirados, amassados e descartados,
Tal como ficam sentimentos abusados
Tal como espreitam, tal como esperam
Linhas irreconhecíveis de um tal amor
Substituído, amassado entre verbos
Tal como ficam estes poetas cegos
Tal como tateiam tais sílabas de dor
Versos banidos do mundo efêmero,
Transitórios desejos eternos sem pai
Tal como morrem de aspas os imortais
Tal como fraquejam, tal poder supremo
Virgulas ignoradas e remetentes estrangeiros
Paisagens apagadas nas reticências diurnas
Tal como ficam debaixo de um leito de brumas
Tal como maldizem o que carregam no seio
Em baixo da cama
recolhi umas promessas,
Póstumas, funestas, canalhas e ciganas
Tal como enlouquecem, tal como enganam
Tal como sabemos, tal como essas.
E meu desejo transportou para a poeira
Para o calabouço lúdico de outrora
Tal como consomem, tal como isolam
Tal como quem, tal como queira
Tal como moram.
Poeira.
~César Augusto
Foto: Henderson Baena
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